Apresentação
A Universidade de Aveiro (UA) convida investigadores, formadores, professores e demais interessados a submeterem trabalhos para o Colóquio Internacional sobre Plurilinguismo e Interculturalidade nas Fronteiras – Desafios e Perspetivas para o Ensino e a Formação, que ocorrerá nos dias 06 e 07 de novembro de 2025.
Tendo em vista aprofundar a compreensão da complexa realidade das regiões fronteiriças e os desafios específicos que esta realidade impõe à educação, o evento fomentará reflexões e diálogos sobre o ensino, aprendizagem e formação docente em contextos de fronteira, considerando o impacto das interações linguísticas e culturais, das práticas pedagógicas e das políticas linguísticas orientadas para o plurilinguismo e a interculturalidade.
As regiões de fronteira oferecem um contexto singular para a análise de questões relacionadas com a linguagem, a cidadania, a alteridade, a cognição docente e a prática pedagógica. A contiguidade geográfica entre países não garante, por si só, relações de proximidade com a língua e cultura do outro. Estudos como os de Putsche e Faucompré (2016), por exemplo, no contexto da fronteira entre França e Alemanha, demonstram que as representações sociais e culturais construídas ao longo da trajetória escolar influenciam diretamente o ensino e a aprendizagem de línguas vizinhas, destacando a importância de uma formação docente que contemple a complexidade das identidades linguísticas e culturais fronteiriças.
De modo semelhante, pesquisas recentes, como as de Goenechea, Machín Álvarez e Belkat (2024) e Gallego-Noche et al. (2023), exploram as percepções de jovens residentes nas regiões fronteiriças entre Espanha e Marrocos, particularmente no Estreito de Gibraltar. Esses estudos analisam as identidades culturais, a experiência da multiculturalidade e as dinâmicas de oportunidades e tensões vividas nesses espaços.
Ainda no contexto das fronteiras europeias, pesquisas realizadas entre Portugal e Espanha, como as de Lourenço-Simões, Araújo e Sá e Matesanz (2024a e 2024b), Ulhôa e Araújo e Sá (2024a e 2024b), Matesanz del Barrio, Ferreira Martins e Araújo e Sá (2023), e Castro e Schwambach (2023) documentam e analisam criticamente os resultados do projeto Escolas Bilíngues e Interculturais de Fronteira (PEBIF) entre Portugal e Espanha, argumentando a relevância da cooperação transfronteiriça para articular sistemas educacionais distintos e construir redes de partilha de experiências, com foco na formação continuada de professores.
De forma complementar, Pevec Semec (2018) examina um projeto de mobilidade transfronteiriça de professores na tríplice fronteira entre Eslovênia, Áustria e Itália, registando o impacto de práticas multilingues e interculturais no desenvolvimento profissional docente.


No contexto das Américas, o Projeto Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira (PEIBF) do MERCOSUL (2005-2016) é discutido por Oliveira e Morello (2019), que destacam as condições políticas e socioculturais que moldaram o programa, incluindo a assimetria linguística entre brasileiros e hispanofalantes. Outros estudos, como os de Santos (2017), Diniz-Pereira e Tallei (2021), Sturza (2019), Guimarães et al (2024) e Ferreira Martins (2022), exploram as dinâmicas sociolinguísticas, educacionais e culturais nas fronteiras brasileiras, abordando as simetrias e assimetrias que afetam o uso das línguas, as práticas docentes e as atitudes linguísticas. Já na fronteira México-EUA, Herrera-Rocha e De la Piedra (2019) mostram como programas bilingues de transição frequentemente resultam na assimilação linguística ao inglês e no abandono de línguas maternas.
Os estudos citados convergem na necessidade de construir conhecimento colaborativo a respeito das estruturas e características das relações transfronteiriças, com foco no ensino e na formação de professores. As fronteiras, mais do que divisores geopolíticos, são construções históricas, políticas, simbólicas e culturais que moldam as práticas e vivências de seus habitantes (Anzaldúa, 2012) ou, em outros termos, “fronteiras são espaços de negociação simbólica, trocas e transgressões culturais” (Francis, 2017, p.108).
Os fenómenos de fronteira permitem, assim, colocar uma série de questões, tanto conceptuais como práticas, para educadores, formadores e investigadores em educação, decorrentes do contato e da concorrência das línguas, mas também do valor da colaboração e cooperação entre regiões, seus atores e instituições. Conectando experiências de fronteiras em várias latitudes, este Colóquio propõe-se como um espaço de diálogo com o intuito de debater os desafios dos fenómenos contemporâneos nestes espaços, incorporando o desenvolvimento da interculturalidade e do plurilinguismo.
Eixos Temáticos
- Políticas linguísticas educativas em regiões fronteiriças: cenários educativos, desafios e potencialidades do ensino de línguas.
- Didáticas transfronteiriças: práticas pedagógicas em contextos multilingues; educação, cultura e identidade.
- Representações sociolinguísticas: crenças e atitudes sobre línguas-culturas vizinhas e seu impacto no ensino-aprendizagem.
- Formação docente: Cenário de formação em contextos plurilingues e identidade profissional docente.
Referências
Anzaldúa, G. (2012). Borderlands/La Frontera: The new mestiza. Aunt Lute Books. [1ª ed. 1987]
Castro, C., & Schwambach, S. (2023). Projeto de Escolas Bilíngues e Interculturais de fronteira: Uma experiência com escolas de Portugal e Espanha. Temas & Matizes, 17(30), 207-237. https://doi.org/10.48075/rtm.v17i29.31840
Diniz-Pereira, J. E., & Tallei, J. I. (2021) A dimensão da formação permanente de docentes que atuam nas escolas de fronteira. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, 16(4), 2263–2278. https://doi.org/10.21723/riaee.v16i4.14941
Ferreira Martins, V. (2022). Las variedades lingüísticas del español en la frontera Brasil-Bolivia: Por una enseñanza intercultural. Literatura y Lingüística, 45, 485–515. https://ediciones.ucsh.cl/index.php/lyl/article/view/2109.
Francis, M. (2017). A fala do mensú nos contos de Horacio Quiroga e sua tradução ao português rio-grandense. In N. P. P. Prata et al. (Orgs.), Espanhol em pauta: Perspectivas teórico-analíticas (pp107–115). Editora Apris.
Gallego-Noche, B., Goenechea, C., Gómez-Ruiz, M. Á., & Machín-Alvarez, M. (2023). Towards intercultural education: Exploring perceptions of cultural diversity and identities of adolescents living in the border area between Spain and Morocco. Education Sciences, 13(6), 559. https://doi.org/10.3390/educsci13060559
Goenechea, C., Machín Álvarez, M., & Belkat, S. (2024). Interculturalidad e identidad en la frontera sur de Europa: La visión de sus habitantes jóvenes [Interculturality and identity on Europe’s southern border: The vision of its young inhabitants]. Estudios Fronterizos, 25, 1-28. https://doi.org/10.21670/ref.2404140
Guimarães, T. F., Buin, E., & Garcia, R. I. D. (2024). Práticas de translinguagem com estudantes multilíngues em uma escola de fronteira. Temas & Matizes, 17, 289–314. https://doi.org/10.48075/rtm.v17i29.32001
Herrera-Rocha, L., & de la Piedra, M. T. (2019). Ideologies of language among ELLs on the US-Mexico border: The case of a transitional bilingual programme. Journal of Multilingual and Multicultural Development, 40(8), 665–678. https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/01434632.2018.1544638
Lourenço-Simões, C., Araújo e Sá, M. H., & Matesanz del Barrio, M. (2024a). Enfocando la interculturalidad: Revisión de literatura sobre proyectos y estudios de educación en lenguas realizados en contextos de frontera. Revista de Investigación Educativa, 42(2). https://doi.org/10.6018/rie.565531
Lourenço-Simões, C., Araújo e Sá, M. H., & Matesanz del Barrio, M. (2024b). Interculturalidad sin fronteras: hermenéutica del concepto en proyectos de aprendizaje desarrollados en la raya luso-española. [Manuscrito submetido].
Matesanz, M., Ferreira, V., & Araújo e Sá, M. H. (2023). Projeto Escolas Bilingues e Interculturais de Fronteira (PEBIF): Um projeto transfronteiriço e integrador na Península Ibérica. Revista Iberoamericana de Educación, 93(1), 45–65. https://rieoei.org/RIE/article/download/5998/4765/13616
Oliveira, G. M. de., & Morello, R. (2019). A fronteira como recurso: o bilinguismo português-espanhol e o Projeto Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira do MERCOSUL (2005-2016). Revista Iberoamericana de Educación, 81(1), 53–74. https://rieoei.org/RIE/article/view/3567.
Pevec Semec, K. (2018). Mobile Teachers at Border Schools – multilingualism and interculturalism as new challenges for professional Development. Center for Educational Policy Studies Journal, 8(4), 47-62. https://www.cepsj.si/index.php/cepsj/article/view/551
Putsche, J., & Faucompré, C. (2016). Formation des professeurs de langues en région frontalière: Croyances et représentations des futurs professeurs d’allemand en Alsace face à l’enseignement de la langue du voisin. Education et sociétés plurilingues,40, 47-60. https://doi.org/10.4000/esp.817
Santos, M. E. P. (2017). Portunhol Selvagem: translinguagens em cenário translíngue/transcultural de fronteira. Gragoatá, 22(42), 523-539. https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33483
Sturza, E. R. (2019). Portunhol: língua, história e política. Gragoatá, 24(48), 95–116. https://doi.org/10.22409/gragoata.2019n48a33621
Ulhôa, A., & Araújo e Sá, M. H. (2024 a). Interações docentes transfronteiriças nas raias entre Portugal e Espanha: Uma experiência de formação contínua a partir do Projeto Escolas Bilíngues e Interculturais de Fronteira (PEBIF). EduSer, 16(2). https://doi.org/10.34620/eduser.v16i2.292
Ulhôa, A., & Araújo e Sá, M. H. (2024 b). Projeto Escolas Bilingues e Interculturais de Fronteira (PEBIF): Educação transfronteiriça nas raias entre Portugal e Espanha. Boletim da Appele. https://orcid.org/0000-0002-0583-6179
Local
O evento será realizado no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, em Portugal. A programação incluirá mesas-redondas organizadas com base nas comunicações aceites, explorando múltiplas perspetivas sobre a educação linguística e intercultural em contextos fronteiriços.
